domingo, 10 de outubro de 2010 | By: Cacau Ribeiro

Sem escrúpulos e nem títulos.

  Não podia ter ligado o rádio em momento mais oportuno. Aquela música dizia tudo que meu coração gritava naquela hora. Sua ausência me fazia perceber o quanto era bom ter você por perto. Seus olhos nos meus, suas mãos em meu rosto que, em seguida, se dirigia subtamente para a sua boca que me me desejava mais e mais. Eu podia sentir.
   Meus dedos estavam manchados de sangue. Minha alma astava inquieta. Todo o fluxo do meu corpo estava acelerado, pensamentos, batimentos e sentimentos. Andei até os desenhos jogados na mesa. Tentei encontrar forças para não me culpar. Mas tudo estava consumado. As lágrimas do arrependimento começaram a cair, borrando todos os desenhos alegres.

    Já sentada na cadeira velha e quebrada comecei a descrever a cena. Descrevi toda a história. Desde a embriagada noite anterior até a imagem de um corpo frio no chão. Minha mão trêmula produzia letras grotescas.

    Assim que acabei o relato caminhei até a cozinha escura e molhada desviando dos cacos de vidros que estavam no chão por causa da discussão durante a conversa. Aquele cômodo da casa cheirava a traição. Minha ânsia tomava conta de mim até que não consegui segurar. Corri para o banheiro, mas não cheguei à tempo. Voltei pelo corredor imundo e, com uma pequena bala, acabei com aquela dor, que vinha do meu músculo palpitante, da maneira mais desleal e pecaminosa possível.